quarta-feira, 25 de março de 2009

Museus Inclusivos contra a Exclusão Social

Vivemos numa época em que, diariamente, somos confrontados com o ritmo acelerado de transformações sociais que fazem mudar, de modo por vezes quase imperceptível, os comportamentos, as mentalidades e as próprias necessidades dos agentes e das instituições (Ruivo, 2002:13)

Segundo o Instituto Português de Museus (IPM) apenas 20 dos 120 museus portugueses "têm projectos em curso" para pessoas com deficiência, tais como exposições complementadas com audioguias, textos escritos em Braille, instalações com rampas ou elevadores e materiais pedagógicos específicos.

Como já referido, apesar da existência de uma vasta legislação e um enquadramento jurídico que apoia a inclusão, na verdade, os direitos praticados pelas instituições nem sempre obedecem às normas. Tal como refere Ruivo, o direito realmente praticado num processo-acção leva muitas vezes as instituições a obedecerem a sistemas contraditórios de ordem e poder. Até, porque, as instituições tendem a actuar sob sistemas que pretendem atrair audiências enquanto as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS’s) ficam com a responsabilidade do combate à exclusão social.

Tal como refere Caroline Lang (Dodd e Sandell, 2001), Museums and galleries have a significant role to play in promoting social inclusion. A inclusão / exclusão social são conceitos relativamente recentes, a sua origem remonta à década de setenta do século XX, aquando o seu uso em França, para nomear aqueles que não estavam contemplados na Segurança Social, desde aí, o conceito tem vindo a alargar-se e a integrar-se nas várias áreas (social, política, cultural, etc.), significando a desvantagem e desigualdade e acomodando-se a outros conceitos, como a marginalização, pobreza , etc. Simultaneamente, a sua aplicação vulgarizou-se e expandiu-se, ainda que mantenha características estáticas nas várias aplicações do termo (Dodd e Sandell, 2001).

A exclusão social encontra-se intimamente ligada a uma série de elementos, características que normalmente se combinam, como sendo o desemprego, marginalidade, más condições de vida, pobreza e problemas de saúde. Numa aplicação mais direccionada, a nível individual ou de grupo, indica o não acesso a bens, direitos ou serviços, nos diversos aspectos vivenciais, adquirindo uma dimensão cruzada a nível económico, social, politico e cultural.

Parafraseando Dodd e Sandell (2001:14), when the new elite says we must tackle social exclusion such a statement could mean a lot of different things. “Social exclusion” sound like a nasty thing because of its vague association with poverty and deprivation. However, like most key terms in the language of the new elite, “social exclusion” is a radically subjective concept. Anybody can be socially excluded if they feel that way, or what is more often the case, if the new elite thinks they should feel that way. Na prática, os museus enfrentam dificuldades em adaptar as suas colecções a públicos diversificados e se não o fizerem serão acusados de sobrevalorizar as colecções em detrimento das pessoas. Contudo, social exclusion is about the inability of our society to keep all groups and individuals within the reach of what we expect as a society. It is about the tendency to push vulnerable and difficult individuals into the least popular places, furthest away from our common aspirations (Dodd e Sandell, 2001:103).

Ao longo dos últimos anos, os museus têm dilatado esforços de forma a alcançar novos públicos que possam usufruir de práticas inclusivas, tornando-se centrais, assumindo o seu importante papel na promoção sócio-cultural. A única forma de servirem a sociedade em que se inserem, através da educação, informação, promoção da criatividade, alargamento de horizontes e promoção de novas visões sociais e culturais, é desafiando os estereótipos e combatendo a intolerância. Desta forma, têm de se alterar as agendas museais e, sobretudo, a forma de conceber os projectos e os programas educativos. Alterar filosofias, valores, objectivos e práticas é indispensável para que as audiências aumentem e a comunidade se envolva com o museu. Da mesma forma, é indispensável a eliminação de barreiras, sejam elas, físicas, intelectuais, emocionais, financeiras ou culturais.

Muitos museus têm sofrido pressões sociais no sentido de alterarem os seus comportamentos, através da criação de projectos inclusivos. Em paralelo, são convidados a “prestar contas” sobre o que têm feito, ou estão a fazer, em prol desse objectivo. No entanto, essa pressão leva a que não se proceda da forma mais correcta, provocando a inaplicabilidade e o desânimo por parte das audiências e dos próprios profissionais. Um dos motivos prende-se com a pluralidade do conceito de inclusão. Enquanto uns associam a inclusão a deficientes, outros, associá-lo-ão a (outros) públicos marginalizados, como estrangeiros, grupos étnicos, grupos de estratos económicos baixos, ou até mesmo, por exemplo, aos horários ou preços aplicados. No meio de toda esta panóplia de interpretações, os museus procuram alcançar os grupos sub representados no seu conceito de visitante-tipo, procurando eliminar todos os obstáculos (sociais, económicos, físicos, intelectuais e emocionais), de forma a alcançar o número máximo de audiências.
Mas, tal como refere Richard Sandell, em todos os assuntos controversos, há sempre um outro lado a considerar As queixas são várias e diversificadas. Estas vão desde o desvio dos museus do seu propósito e objectivos, que vêem, através da inclusão social, as suas responsabilidades subvertidas a favor de fins políticos e governamentais, colocando as suas colecções em risco de danos e destruição precoce, atribuindo, aos conservadores, a missão, não de preservar, mas de cativar público, à impossibilidade de contemplação das exposições com a frequente perturbação da inclusão de todos os públicos. A estas críticas a resposta não pode ser outra se não a de que o museu se deve preocupar com as necessidades dos seus visitantes e tentar colmatar as falhas que levam os não visitantes a não verem relevância nestas instituições (Dodd e Sandell, 2001).

As alterações culturais e demográficas obrigam a criação de “boas práticas” museológicas. Ao longo dos anos, os museus foram adquirindo, para além da preservação cultural, valores de educação, turismo e lazer. Agora, torna-se necessário trabalhar as suas perspectivas a nível de discriminação e desigualdade social, em proveito da inclusão de todos os públicos. Obviamente, não serão os museus a trabalhar em contextos políticos e governamentais, na diminuição de padrões sociais, como a pobreza e o crime, mas podem ajudar no aumento de auto-estima e de confiança pessoal, bem como no sentimento de identificação e de pertença, respondendo, desta forma, às questões da desigualdade, injustiça e discriminação.

A relação convencional entre os museus e os seus públicos está a mudar. O tradicional modelo de museu, o museu elitista e autoritário, está cada vez mais instável e em vias de extinção. Actualmente, os museus vêem-se num universo mais lato e vasto, reconhecendo o seu valor e potencial na alteração de conceitos e valores anteriormente encarados como irrelevantes. As novas relações público / museus baseiam-se na participação activa e na partilha da tomada de decisões por parte das audiências (Dodd e Sandell, 2001:76).

Ao falar de exclusão museológica, e dada a diversidade do tema, não se poderia deixar de referenciar os museus do interior, aqueles que ficam fora dos circuitos urbanos e que acabam eles próprios por se sentirem marginalizados face à inclusão cultural. Caberá, desta forma, às Câmaras Municipais, constituírem-se como actor aglutinante ou dinamizador de iniciativas locais que promovam a inclusão social e cultural. O sentimento de impotência em termos interventivos deve-se, normalmente, ao desconhecimento de como actuar, não só face à diversidade, como também á grande extensão de fenómenos de exclusão de origem local que acaba por conduzir à falta de motivação para combater a exclusão.

Há e haverá sempre factores que podem funcionar como obstáculos a uma participação total e eficaz, vindos, muitas vezes, por parte dos indivíduos. Estes, ao invés de terem um envolvimento intensivo e dinâmico, optam por uma atitude passiva e pouco encorajadora. O envolvimento do público-alvo que se pretende atingir é fundamental mas, para isso, é, igualmente, necessária uma conjugação de esforços por parte de todos os agentes e actores, bem como o funcionamento de serviços indispensáveis, o incentivo à participação e a criação de condições necessárias.

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