O Porto é uma cidade linda. Mas para falar dela tenho que dizer que não sou imparcial e fazer a minha declaração de interesses: nasci no Porto e vivi grande parte da minha vida nesta cidade. Um pouco mais de metade dessa vida, autónomo, e os últimos dezassete anos numa cadeira de rodas. Quando fiquei tetraplégico comecei a reparar nas dificuldades que existiam para me movimentar: passeios com grandes desníveis, inacessibilidade dos transportes públicos, degraus para entrar em edifícios públicos, dificuldade em ir à praia (que tanto gostava), passeios mal pavimentados ou com pavimentação irregular ou ruas inclinadas. Relativamente a estas últimas, que são acidentes de relevo não há grandes soluções para elas; mas quanto às outras existem soluções e já alguma coisa foi feita no Porto..
Para quem quiser deslocar-se, em transportes públicos, em cadeira de rodas, pode fazê-lo utilizando o metro. Até à data ainda não houve uma estação que precisasse de usar que não estivesse adaptada. E penso mesmo que estão todas. Muitos dos autocarros também são acessíveis, havendo várias paragens elevadas para facilitar a entrada e saída. Mais difícil, para não dizer impossível, é fazer uma viagem turística nos tradicionais carros eléctricos.
No Porto há vários pontos de interesse a visitar, alguns acessíveis a cadeiras de rodas, outros completamente impossíveis de aceder, como é o caso da Torre dos Clérigos, desenhada pelo italiano Nicolau Nasoni. Outro edifício com grandes dificuldades de acesso é a Igreja de S. Francisco que fica na turística zona histórica da ribeira, classificada como património mundial pela UNESCO. É uma área com ruas íngremes em paralelo e passeios com desníveis. Ao lado da referida igreja, encontra-se o Palácio da Bolsa. Na sua entrada tem uma escadaria que dificulta o acesso, mas falando com o porteiro, pode-se pedir para entrar com a cadeira de rodas pela entrada lateral. Para quem se deslocar numa cadeira eléctrica – uma vez que o elevador não é muito grande – poderá ter dificuldade em aceder ao segundo piso, onde se encontra o magnífico salão árabe, uma das mais deslumbrantes salas que vi.
O Porto é também conhecido pelas suas pontes, seis no total, sendo a mais célebre, a ferroviária – entretanto desactivada – de D. Maria Pia construída pela empresa do famoso Gustave Eiffel. Contudo, estando na zona da Ribeira, o convite é para atravessar o rio Douro pela bela ponte Luiz I (como o Rei não esteve presente na inauguração, como retaliação, a população retirou o Dom ao nome) e fazer uma visita às caves de Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia. Existem variadas propostas. Duas que já experimentei a acessibilidade para cadeira de rodas foram as caves da Calém e da Ferreira.
Regressando ao Porto, a sugestão é visitar a Casa da Música arquitectada por Rem Koolhaas que passou a ser a mais recente casa de espectáculos e ex-libris da cidade. Não se assuste com a escadaria se quiser ir ao restaurante deste edifício, há uma plataforma para cadeira de rodas. Também totalmente acessível é uma das obras de Álvaro Siza Vieira: o Museu de Arte Moderna que fica em Serralves e onde se podem ver excelentes exposições. Por lá já vi exibições temáticas de Andy Warhol, Francis Bacon, Paula Rego e Amadeo de Souza-Cardoso, para falar de só alguns artistas. Também gosto muito de passear pelos magníficos jardins que rodeiam este museu.
Outras propostas para relaxar ao ar livre são um passeio pelo Palácio de Cristal ou no recuperado Parque da Cidade, ambos preparados para receber utentes com mobilidade reduzida.
Para descontrair ao final da tarde, sugiro uma das várias esplanadas à beira-mar, quase todas elas com rampas de acesso.
Lembro-me bem que há uma década as zonas balneares não estavam preparadas para pessoas que se deslocassem em cadeiras de rodas, mas hoje em dia, o panorama é francamente diferente. Ultimamente, as autarquias do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos investiram na requalificação das frentes marítimas e na qualidade da água do mar, assim como na acessibilidade das praias. Há já várias em que é mesmo possível tomar banho num tiraló. Para as descobrir, assim como outras propostas, poderá consultar várias sugestões no site www.portugalacessivel.com . Divirta-se no Porto!
Por Bento Amaral (Junho 2011), disponível em Portugal Acessível
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