segunda-feira, 23 de março de 2009

Inclusão versus conservação?

Quando se pensa no conceito de alguém com a função de conservador, não é inusitado vir à mente a imagem de um indivíduo envergando uma bata branca, rodeado de compostos químicos e estojo de instrumentação, o qual emprega uma terminologia complexa e por vezes inacessível nos diálogos que estabelece com os utentes das instalações afectas ao museu. Esta forma de encarar a pessoa do conservador e a filosofia do “Não Tocar”, adoptada pelos museus, é referida por Richard Sandell, como se pode comprovar pela leitura do excerto abaixo transcrito:

The principal ethic that governs and drives the conservator is to protect and preserve, inevitably resulting in a Dont’t Touch philosophy that can be readily perceived as negative anda t odds with the desire to view, use and enjoy the objects and artefacts held in museums. The process of conserving an object is usually carried out behind closed doors by a few individuals who will develop an intimate knowledge of the object and any consultation regarding the extent and nature of the conservation process is usually limited to the curator. (Dodd e Sandell, 2001:89).

A criação de museus tem como objectivo tornar acessível alguns aspectos culturais ao público em geral, no entanto, o conceito de o museu para todos e com colecções tácteis vai contra o objectivo primordial dos profissionais de museologia, o qual se traduz na conservação dos objectos expostos. Será que se deverá criar réplicas para serem tacteadas? Haverá peças sacrificáveis? Como manusear? Que posição tomar em relação às reservas abertas? Eis algumas das questões com as quais os profissionais de museologia se debatem.

O contacto directo do público com o objecto, o qual não é possível quando o mesmo se encontra num ambiente de vitrina, leva o conservador, de forma automática, a colocar questões sobre a protecção e preservação do objecto a ser manuseado.

Sob o ponto de vista dos objectos é de ressaltar que estes necessitam de condições adequadas de humidade relativa, de temperatura, de luminosidade, de acondicionamento, de manuseamento, de limpeza e de restauro, condições essas que têm de ser respeitadas mas as quais serão violadas através da permissão de interacção com o público. Por outro lado, os críticos que tomam o lugar oposto, justificam a sua tomada de posição, argumentando que são as pessoas que têm necessidades e não os objectos (Dood e Sandell, 2001: 91). Aqui talvez a solução resida no respeito mútuo. Se o público for ensinado a manusear as peças, e alertado para a importância das boas práticas para a perpetuação das mesmas ou, pelo menos, para o aumento da durabilidade dos objectos, poder-se-á chegar a um consenso que apoie ambas as posições. Da mesma forma, os museus devem estar mais atentos às vontades e desejos das possíveis audiências. Também aqui as audiências desempenham um papel importante, na medida em que têm de ser flexíveis na sua aproximação aos objectos. Deste modo, tornar-se-á possível responder às suas necessidades.

No entanto, há sempre excepções que têm de ser ponderadas. Por exemplo, no caso dos cegos, colocar-lhes a obrigatoriedade do uso de luvas, aquando do manuseamento de alguns objectos, é sinónimo de vedar-lhes, novamente, a possibilidade de “ver” ditos objectos, dado que a sensibilidade táctil poderá ser condicionada e alterada, se não mesmo, impossibilitada, em alguns casos.

As decisões nem sempre se apresentam como fáceis e os problemas, por vezes, são de (quase) impossível resolução. Torna-se necessária a existência de um meio-termo, um cruzamento de possibilidades, dadas as características específicas das questões que se colocam. Por vezes, as peças podem ser sacrificadas mas também terão de ser respeitadas todas aquelas que dadas as suas condições particulares não poderão obedecer a critérios tácteis.

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