sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Projecto "Dialogue boxes on street Windows"



Invasão do centro histórico de Faro com Arte Pública made by UAlg “foi um sucesso”

Na terceira edição do programa Art Allgarve, em 2009, foi pela primeira vez integrada uma componente regional, para a qual contribuíram docentes e alunos de Artes Visuais da UAlg – os primeiros enquanto curadores, os segundos enquanto artistas. O projecto Dialogue boxes on street Windows, composto por dez instalações produzidas por quatro artistas de renome e dez estudantes da UAlg, esteve nas ruas do centro histórico de Faro durante três meses, desde Junho até ao final de Setembro, e segundo os curadores e docentes de Artes Visuais da UAlg, Mirian Tavares e Alexandre Barata, foi “a exposição mais vista do Allgarve”.

O balanço final não podia ser mais positivo: os curadores do projecto Dialogue Boxes on Street Windows, Mirian Tavares e Alexandre Barata, estão muito satisfeitos com os resultados obtidos com a participação no programa Art Allgarve. Ambos consideram que esta “foi a exposição mais vista do Allgarve, já que as pessoas circulavam pelas ruas da baixa e do centro histórico de Faro e a arte estava ali, ao lado delas”, sublinhando que “projectos como este são importantes para que as pessoas tenham consciência de que nem tudo que está exposto na via pública é arte”.

Mirian Tavares e Alexandre Barata frisam que para criar esta exposição contaram com quatro grandes artistas – António Costa Pinheiro, Ana Vidigal, Susanne Themlitz e Manuel Baptista – que criaram projectos originais para a exposição. “Todos se envolveram bastante com o projecto, mesmo aqueles que nunca tinham experimentado arte pública, e gostaram do resultado, o que a nós, enquanto curadores, nos dá uma grande satisfação”, assinalam. Aliás, dado o sucesso do projecto, que contou com o apoio da Câmara Municipal de Faro desde o primeiro momento, os curadores acreditam que “este poderia ser um trabalho mais continuado para que Faro, e outras cidades, pudessem sentir como a arte é capaz de transformar o espaço que a rodeia e criar novos itinerários dentro da mesma cidade.”

Este projecto proporcionou ainda um momento único de aprendizagem para os alunos da licenciatura em Artes Visuais da UAlg bem como para os recém-formados em Artes Visuais que participaram na exposição enquanto artistas, pois “aprenderam a trabalhar em condições complicadas, em superfícies inovadoras e a criar algo para uma exposição site specific, o que não é uma tarefa fácil”. E, dizem os curadores e docentes, “saíram-se todos muito bem”.

Jovens artistas/estudantes na UAlg marcam o coração de Faro

“Na raiz do projecto Dialogue boxes on street Windows reside o conceito de arte pública”, explica Mirian Tavares, sendo o objectivo, por um lado, “recuperar a ideia inicial da arte pública como um processo de invasão do espaço urbano, promovendo a sua reconfiguração” e, por outro lado, “aproximar a arte do público que, em geral, não está habituado a ir a locais de exposição convencionais como galerias, centros de arte e museus”.

Andreia Filipe, Alexandre Lima, Guilherme Gonçalves, Gustavo de Jesus, Joana Bárbara, Mara Barth, Paulo Quaresma, Tatiana Barreiros, Tiago Custódio e Úrsula Mestre são os dez jovens artistas e estudantes recém-licenciados do curso de Artes Visuais da UAlg que invadiram o centro histórico de Faro no dia 20 de Junho, interpelando os transeuntes com várias abordagens artísticas.

Segundo Alexandre Barata, “os trabalhos dos alunos da licenciatura em Artes Visuais seguem caminhos muito diversos, desde a utilização de uma linguagem de banda desenhada, onde as personagens espreitam das janelas das casas para a rua que as envolve, até à presença de noivas suicidas, enquadradas num espaço real que se converte em espaço cénico”.

As técnicas utilizadas são as mais variadas, “passando por pinturas realizadas directamente sobre a superfície das casas até ao trabalho realizado sobre materiais, como telas e madeiras, e posteriormente colocado nas fachadas”, continua o curador.
Além dos trabalhos, que estiveram visíveis nas fachadas de algumas casas do percurso, estiveram ainda expostas peças tridimensionais que ocuparão o passeio e os largos e que abrigaram, em muitos casos, performances dos alunos/artistas, que tiveram lugar ao longo do Verão, aos sábados à noite, dando assim uma dimensão ainda mais dinâmica e intensa à relação da arte com o espaço público.

Foi o caso, por exemplo, de Úrsula Mestre, com a instalação performativa “Saia que gritas”, que aborda as questões de género no Séc. XXI através de três peças, três saias das quais três mulheres se tentam libertar, e de Paulo Quaresma, que no contexto do projecto “O meu abrigo é o meu templo” instalou um abrigo e encarnou a personagem de um sem-abrigo nas ruas de Faro uma vez por semana durante três meses.

Proposta curatorial da UAlg integra obras de quatro artistas de renome

“Nestas intervenções a arte afirmar-se-á como um espaço de promoção do diálogo entre as pessoas, envolvendo-as e questionando-as. Será um convite ao olhar crítico, à participação activa no processo de construção de uma cidade de cultura e, obviamente, para a cultura”, sublinha Mirian Tavares. A exposição Dialogue boxes on street Windows reúne, além das contribuições de estudantes da UAlg, obras de quatro criadores convidados. São eles António Costa Pinheiro, Ana Vidigal, Susanne Themlitz e Manuel Baptista, todos, de alguma forma, relacionados com o contexto algarvio.

Para Dialogue boxes on street Windows, António Costa Pinheiro decidiu recuperar parte da sua obra realizada entre 1967 e 1975, Citymobil – Arte-Projecto, que está integrada na fase conceptual do artista. “Neste trabalho ele utilizou objectos que se organizam em narrativas dentro de uma cidade que é, permanentemente, transformada pelos seus habitantes, ideia que se encaixa perfeitamente na proposta curatorial deste projecto e que continua a ser inovadora e instigante, mesmo após tantos anos”, frisa Alexandre Barata.

Ana Vidigal decidiu explorar o espaço público através de um olhar, ao mesmo tempo, perverso e infantil, ao explorar as figuras que parecem saídas de ilustrações dos anos 50. “Os painéis da artista colocam o público na incómoda posição de voyeur, que participa, voluntariamente ou não, de uma série de jogos propostos por duas meninas, especulares, mas de tamanhos diferentes – o que marca uma relação de poder e submissão”, continua o curador. As janelas abrem-se de par em par e deixam que o público invada, completamente, o espaço privado, e sagrado, da inocência infantil.

Segundo Mirian Tavares, “neste projecto, Susanne Themlitz desenvolve um trabalho inquietante, onde um edifício deixa de ter fronteiras entre o espaço de fora e o espaço de dentro – ambos passam a conviver, lado a lado, numa superfície externa”. Não é preciso espreitar para dentro das janelas, a casa, como que esventrada, é exposta ao olhar de todos. Os elementos, que convivem na superfície do edifício, estão também eles fora do tempo e do espaço apropriados, remetendo-nos para o universo onírico da artista.

Já Manuel Baptista trabalha a dualidade entre as superfícies, a ideia de bidimensionalidade e de tridimensionalidade que se cruzam e se complementam, criando um efeito ornamental e decorativo, sem deixar de ser provocador. “Uma provocação que evoca a Pop Art, recheada de ironia e bom humor, tornando o espaço público atraente e vivo, buscando atrair também o olhar do público que passa e que já não vê o espaço que o circunda”, conclui a curadora.

Contactos:
Mirian Tavares: miriantavar@gmail.com
Alexandre Barata: abarata@ualg.pt

Fonte: Universidade do Algarve

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